sábado, 14 de outubro de 2017

Era uma vez na estrada...

Após muito tempo pensando no porquê resolvi voltar a estudar e sair da PRF, entendi a raiz fundamental da minha decisão. Não é que não ame mais a PRF, eu continuo a amar a PRF, só amo  uma PRF que não existe mais. Sinto-me como aquele marido que olha pra esposa e se lembra que casou com uma mulher completamente diferente da que está hoje ao seu lado e se sente triste e nostálgico. Quando me imaginava na PRF, me imaginava sendo aquele guarda amigo do usuário. O guarda que patrulha o trecho conversando com o colega vendo se alguém precisa de ajuda. O guarda que ajuda a retirar o seu veículo do barranco e que ajuda a "destombar" o carro do usuário na mão para não ter que chamar um guincho sem necessidade. O guarda que dá informações precisas de onde ficam as cidades ou vilarejos, pois conhece cada curva do trecho e a região entorno. Aquele guarda tão camarada, que mesmo o usuário sendo multado, ele sai sorrindo, agradecendo a abordagem e desejando um bom trabalho. O guarda que quase nunca precisa levar problemas pra chefia, pois ele resolve tranquilamente os pepinos que dão no plantão. O guarda que vai no restaurante do trecho, conhece o dono, toma um café e pergunta como estão as coisas e se está tudo bem. Hoje, vejo a cada dia a institucionalização da PRF, esta transparece até nos postos mais modernos. O policial aborda sem dar um bom dia pro usuário, trata todos com frieza, inclusive o outro policial que está no plantão. Tudo, absolutamente tudo, é lançado no papel, até aquilo que não tem nenhuma relevância ou importância para ninguém. Por exemplo: "às 10:27 o guarda tal peidou fedido" - "às 11:32 o guarda fulano deixou o telefone cair no chão, mas o mesmo continuou a funcionar sem danos aparentes" - "às 12:51 o guarda Beltrano deu informação de onde ficava a cidade X ao usuário João das Couves, portador do CPF 123.456.789-00 e que dirigia o veículo LS-123, placa XYZ-7890." 

Antigamente, na PRF, os guardas se conheciam e tomavam uma cerveja juntos, conheciam um a família do outro e se ajudavam mutuamente. Hoje, há uma desvalorização da pessoa do policial, o guarda se torna somente um número. E, o que é pior, há uma presunção de que todo PRF é um vagabundo em potencial. O guarda possui o celular funcional rastreado, viaturas monitoradas, viaturas com câmeras voltadas para dentro, cartão programa para cumprir, metas a serem cumpridas e tenho dó do guarda que não conseguir cumprí-las, pois até pode acarretar na demissão do guarda por improdutividade. Imagino o que sentem os guardas que entraram em 94, que estão com um pé na aposentadoria, vendo no que a PRF se tornou e tendo que cumprir metas ridículas que somente servem para engessar o serviço. A cada dia os próprios guardas arrumam mais e mais maneiras de como controlar e ferrar com outros guardas como se tivessem um prazer sádico em ver o colega se dando mal de alguma maneira. 

Com a atual política e gestão, sinceramente, a PRF é um órgão que visa a extinção e a causa é interna. Assim como um câncer, que inexoravelmente se espalha, adoece o corpo e acaba  provocando a sua morte. Provavelmente, iremos nos incorporar à polícia federal como uma nova espécie de sub-classe e repassar os trechos para a Polícia Militar realizar o patrulhamento. Se eu estiver vivo daqui há 30 anos, contarei com muito orgulho e nostalgia para os meus netos várias histórias que vivenciei nas curvas da estrada e outras que ouvi outros guardas me contarem na época em que trabalhei em um órgão excelente, que prestava um serviço humanizado, e que, infelizmente, não existe mais...

P.S. Em qual posto você preferiria trabalhar? Em um posto antigo humanizado ou em um posto novo que mais parece uma praça de pedágio? Detalhe: o plantão é no padrão da PRF em 2 guardas...


Posto Raiz
Posto Nutella

14 comentários:

  1. Cara, nunca passei por um desses postos "nutella", pelo menos não aqui na região do Nordeste onde moro... o pior é que aqui, cada dia que passa, estão fechando esses postos "raiz".

    Me diz uma coisa Wolf, aquele seu post de 2009, você sabe dizer se ainda é possível se voluntariar durante o curso de formação pra tentar uma vaga no NOE?

    Bons estudos!

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    1. Aqui onde estou, esses postos Nutella tendem a se proliferar. Sinceramente não gosto deles (acho que deixei isso claro no post rsrsrsrsrs). Torço muito que me deixem no meu postinho e no meu trecho em paz até sair da gloriosa. Se isso acontecer, me dou por satisfeito e vou embora feliz.

      Fera, normalmente vc faz o CFP, entra na PRF como guarda de pista, mostra serviço, depois vc faz o TAF e tenta uma vaga no NOE em concurso interno... Pelo menos é o que vejo aqui...

      Abração, fera. Qualquer dúvida pergunte... Estudemos, pois "Deus ajuda quem senta e estuda."

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    2. Obrigado pelas informações, abraços!

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  2. NW ou (G C...) chamar pelas suas iniciais de guerra...rs
    Entendo sua frustração, mas a PRF não é assim de tão ruim. Em comparação com outras instituições, é bem melhor para se trabalhar. Quem já foi PM,PC, EB e está na PRF, sabe disso. O clima do trabalho dos EPAs é bem pior. No mais vc pretende ser delta civil, ok. Mas acha que lá são 1000 maravilhas? Maioria das PCs estão sucateadas, briga entre funcões etc. Então meu caro n existe lugar perfeito. Se não quer mais clima de pista, a PRF tem lugar para todo mundo, o ADM sempre precisa de bons profissionais. No mais, enquanto não sair, volte seu sonho de 2007 e contribua para a PRF ser a melhor instituição para se trabalhar.

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    1. Nobre, nunca deixei de contribuir para a PRF, sempre fiz o meu trabalho e acho que sempre o fiz muito bem. Na minha opinião a principal função do PRF é "salvar vidas". E se o guarda tem alguma influência, direta ou indireta, na prevenção de acidentes, acredito que estou desempenhando muito bem a minha função. Em relação a passar em outro concurso, não tenho falsas ilusões quanto a ser delta, inclusive este não é o meu objetivo final, é só um meio para conseguir a pratica jurídica necessária.

      Relativo à minha frustração com a gloriosa, o grande problema que vejo atualmente na PRF não é o trabalho ou a pista em si, e, sim, a chefia que é comandada em grande parte por novinhos que mal sujaram o coturno na mãe-preta e que querem me ensinar como trabalhar e o excesso de burocratização e controle. E, sinceramente, se é para contribuir com a PRF não é no ADM que vou fazê-lo, certo? A crise de falta de efetivo que hoje a PRF vivencia se dá, em grande parte, devido ao excesso de PRFs que fogem da pista para viver as benesses das funções do ADM. Hoje, mais da metade da minha turma original do CFP está no administrativo, acho que isso dá uma dimensão do problema...

      P.S. Desculpe a minha curiosidade, mas gostaria de saber quem fez esse comentário. Já que sabe quem sou, tb gostaria de saber com quem falo...

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  3. As rodovias escoando drogas e armas, assaltos em números alarmantes, acidentes ceifando vidas e o cara quer ser: "aquele guarda amigo do usuário. O guarda que patrulha o trecho conversando com o colega vendo se alguém precisa de ajuda." "destombar o carro do usuário na mão para não ter que chamar um guincho sem necessidade." "ser guarda tão camarada". "O guarda que vai no restaurante do trecho, conhece o dono, toma um café e pergunta como estão as coisas e se está tudo bem."
    Vc realmente está no lugar errado companheiro, fez o concurso errado e torço pra que em breve esteja aprovado em outra carreira.

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    1. Cada trecho tem sua realidade, amigo. Já trabalhei em trecho em que vc mal tinha tempo para respirar de tanto acidente e os plantões eram dedicados SOMENTE para essa função. Não dava para mais nada, fera. Quando trabalhava no MT, os acidentes não eram tão frequentes assim e como era trecho em que passava bastante droga, fiz algumas apreensões e recuperei alguns veículos com furto/roubo lá. Hoje meu trecho é sossegado, não há assaltos a carga recentes, nem é rota do tráfico de drogas e como disse no comentário acima, não vejo vidas sendo ceifadas assim. Pelo menos, não nos meus plantões... ;-)

      Amigo, cada guarda tem o seu modus operandi. Até que eu esteja lidando com algum vagabundo, sou muito camarada do usuário. Sempre achei que esse é um grande diferencial da PRF. Sempre que posso ajudo, quando tenho que autuar um cidadão, muitas vezes este sai me desejando um bom serviço e pedindo desculpas. Se vc, como usuário, por qual prf vc preferia ser abordado? Por um guarda que lhe tratasse com cordialidade ou por um guarda ranzinza que nem lhe dá bom dia, que acredita que todos os usuários são vagabundos em potencial? Eu sou um admirador confesso da turma de 94, foram eles que tornaram a PRF em uma polícia e se hoje a PRF está onde está é devido ao esforço eles. Foi com eles que aprendi como abordar e proceder no serviço e é neles que me espelho em como ser um bom PRF. Infelizmente, acredito que com a aposentadoria em massa da turma de 94, a PRF tende a perder essa identidade de polícia "camarada" ou polícia cidadã, para ser somente mais uma polícia como todas as outras e, sinceramente, não é nesta PRF que quero trabalhar. Como disse no post acima, queria trabalhar naquela PRF de antigamente e não nesta que hoje se apresenta. Fico muito triste com o que vislumbro para o futuro da PRF. Veja a diferença de como proceder da turma de 94 comparado com as turmas mais novas. Já vi chefe da turma de 94, se deslocar mais de 350 kms para compor equipe para o colega não passar o plantão sozinho. Enquanto, tb já vi chefes novinhos que nem acabaram o estágio probatório ou que acabaram de terminá-lo, todos mega operacionais do conforto dos seus escritórios, não poderem sair do conforto do lar e deslocarem míseros 20 kms para ir tirar 12 horas de plantão noturno deixando o guarda sozinho no posto. Só pra finalizar e demonstrar de vez que uma coisa não tem nada a ver com a outra, o guarda "camarada" aqui encaminhou 2 pessoas em menos de 1 mês, e não foi por alcoolemia que é a maioria absoluta das prisões aqui do meu trecho. Gosto muito de realizar rondas nos meus plantões. Graças a isso, conheço meu trecho como ninguém. Conheço cada curva e cada localidade, o que facilita muito na hora de atender algum acidente. Gosto muito de parar nos restaurantes do trecho e enquanto tomo um cafezinho, levantar se o dono do restaurante viu alguma coisa suspeita ou se sabe da ocorrência de alguma coisa relevante. Acho engraçado que muito guarda faz aquele perfil operacional, posta fotos no facebook com armamento, colete cheio de penduricalhos, óculos escuros, cara de mau, etc; mas que nunca trocou tiro com vagabundo ou pior, quando dá uma ocorrência desse gênero é o primeiro a se acovardar e "ir com cautela" deixando as coisas esfriarem ou nem ir...

      Se vc acredita que a PRF se limita SOMENTE a "prender vagabundo" quem fez o concurso errado ou quer fazer o concurso errado é vc. (Não sei se é PRF ou não, afinal utilizou do anonimato para fazer o comentário.) Polícia que se limita a prender vagabundo é a POLÍCIA MILITAR, faça certame para lá e seja muito feliz, meu amigo. E por muitos colegas acreditarem que o futuro da PRF está SOMENTE no combate a criminalidade é que hoje o salário do guarda está começando a se igualar a da P.M. Se não fosse o aumento que a Dilma deu no apagar das luzes do seu governo, estaríamos literalmente fodidos e mal pagos...

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    2. P.S. Se já for PRF e for algum novinho - acredito que sim, pois seu comentário demonstra pouca experiência e malícia com a realidade da pista - não caia no conto da sereia operacional de guarda garganta, amigo. De qualquer forma, agradeço os votos para que seja aprovado e eu saia da PRF, pois, hoje, não me vejo me aposentando na gloriosa. Afinal, nem acho que a PRF irá durar esses tempo todo... Abraços e fique com Deus...

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  4. Caramba, eu acompanho o blog dos policiais (tanto PRF como PF) e vejo que você é o mais desmotivado de todos, na verdade você e o "por dentro da viatura" que já faz tempo que não posta. Eu nunca tinha visto esse seu blog, já favoritei aqui rsrs Essa questão de você, durante o plantão, poder fazer uma "ronda" pela rodovia, cada policial tem essa autonomia? Se num dia você é o plantonista e resolve fazer ronda, pode. Se no outro dia for outro policial e ele quiser só ficar no posto esperando ocorrência, ele também pode? Durante as 24hrs de plantão, vocês não pode descansar nem um pouco Valeu aí

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  5. *Durante as 24hrs do plantão, vocês não podem descansar nem um pouco? Era ter sido pergunta no comentário acima rsrs

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  6. Nobre, já fui a personificação do famoso "Orgulho de Pertencer", mas a gestão interna me fez desmotivar sobre o serviço. O responsável pelo "por dentro da viatura" foi meu colega de CFP lá em Cuiabá no longínquo ano de 2009 e acredito que a desmotivação dele seja por motivos parecidos, quiçá os mesmos. Enfim, vamos responder suas perguntas...

    Sim, durante as 24 hrs do plantão podemos descansar um pouco a noite nos revesando em turnos. Isso, se o usuário permitir, claro. Por coincidência, nos meu 2 últimos plantões ocorreram acidentes na madrugada, então, não deu pra descansar muito.

    Relativo a autonomia do PRF, ela está lá atrás em algum passado dourado da gloriosa. Hoje, tudo é "papel" e cartão programa a ser cumprido. Devido a informatização dos tempos atuais, o chefe que está no ar-refrigerado pode ficar verificando em tempo real o que vc está fazendo. Se quer autonomia, seu lugar não é na PRF. Pelo menos, não no N.G.S.

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  7. Opa, obrigado pelo retorno. O que seria esse N.G.S? Você atualmente ainda está lotado no PR? Cara eu li todo o seu relato do CFP e é muito triste o contraste das postagens de lá pra cá. Confesso dar uma tristeza você querendo sair, e nós que estamos fora querendo entrar. O mais desanimador é que, vendo pelas suas postagens e do seu colega, os bons sairão e caso nós consigamos adentrar não teremos o apoio dos bons. Complicado a situação. O mais complicado é que no futuro pode ser eu a ter as mesmíssimas reclamações e esse maldito ciclo nunca se encerrar.

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    1. N.G.S. = Núcleo do Guarda Simples.

      Veja bem, nobre. Não quis entrar na PRF para ser chefe, nem para que me dessem tapas nas costas dizendo bom trabalho. Primeiramente, entrei aqui para conseguir trazer um pouco de conforto a minha família. Depois, conhecendo mais da gloriosa, quis entrar aqui para fazer o meu trabalho da melhor forma possível, sem a necessidade de ser controlado pra isso. Hoje, não me vejo mais me aposentando aqui como via no passado. Contudo, pode ser que pra vc a PRF seja tudo de melhor. E, sinceramente, torço para que seja assim. A PRF necessita de efetivo e de pessoas vocacionadas. Por mais que hoje esteja desanimado, torço para o melhor da instituição. Torço para que a gloriosa tenha um futuro excelente e também para que os servidores tenham o reconhecimento que merecem.

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    2. Hum, entendi. É, eu andei lendo mais dos seus posts e pelo visto é um caminho sem volta mesmo. Você já vem se preparando pra outros concursos. Agradeço a você por ter se dedicado ao blog e ter disponibilizado tantos relatos para que nós, que estamos de fora, pudéssemos ler e ir se "familiarizando" com a rotina de um PRF. Desejo-te sucesso nesse novo caminho.

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Obrigado