A bruxa tava solta...

Neste mês estamos no posto mais distante, então levamos um bom tempo para chegar até o posto. Ainda mais agora que a BR está em reformas, sendo recapeada. E justamente agora, na época da safra. O trânsito fica parado por até uma hora, indo para o posto pensei: "Cara, essa não é a época para se fazer esse tipo de obra. Isso ainda vai resultar em alguma m3ed4 de acidente." Não poderia saber na hora, mas não podia estar mais certo.

Chegando no posto, tudo conforme manda a rotina. Dou entrado no livro, escrevo quem está presente, quem não está e o porquê, fico sabendo através do relato da equipe anterior os problemas ocorridos, se teve acidente ou não, se alguém foi preso ou não... Estava ainda entretido no livro, quando o Fariseu vem até mim e diz:

Farizeu: Cara, aquela vtr está sem o cartão de abastecimento.

NW: De novo? Não é possível, todo plantão vai ser isso agora? - No último plantão a mesma vtr estava sem o cartão de abastecimento tendo sido inclusive relatado no livro, no mesmo plantão achamos o cartão caido no chão da vtr.

Farizeu: É só que dessa vez eu achei isso no lugar dele. - O colega me mostrava o cartão de usuário de um colega.

NW: Putz, o cara deve ter abastecido a vtr e na hora de guardar os cartões ele deve ter se confundido e levado o cartão da vtr.

Farizeu: Acredito que seja isso.

Fui até a vtr e verifiquei que o dono do cartão é que havia feito o último abastecimento. Então, como mais tarde pude comprovar a teoria estava certa.

Um dos colegas que estava saindo de serviço vira pra mim e fala: "NW, olha só, aquela outra vtr está com um problema na bateria, então evite usá-la e aquela outra está com o óleo vencido, então evite usá-la também". Falei que estava tudo bem, que iria evitar usá-las, mas aí me toquei... Uma vtr está sem o cartão, não podendo ser abastecida, a outra com a bateria ruim e a última com o óleo vencido... Como que vamos trabalhar assim????

Enfim, para o que não tem solução... Designei 2 colegas para irem fazer uma ronda na vtr com o óleo vencido, acreditando que aquela era a vtr menos problemática. O Xícara vira para o Cidão e fala pra ele ir com ele e o Vende-se para a ronda. Falei que não era para ele ir, pq se tivesse um acidente no sentido oposto iriam outros 2 em outra vtr; enquanto o posto ficaria com o último membro da equipe. O xícara não gostou muito, mas foi sem reclamar para a ronda com o Vende-se... Enquanto os colegas foram para a ronda, ficamos abordando na frente do posto.

Quando voltei do almoço o chefe estava lá e disse que um povo do conselho tutelar estaria chegando para destribuir uns panfletos sobre exploração sexual infanto-juvenil e que era para auxiliarmos eles parando os veículos para que os panfletos fossem destribuídos. A outra equipe que havia saído para a ronda retornara e também começou a ajudar o povo do conselho. Sendo que fui informado pelos colegas da ronda que a vtr que eles saíram tb estava com um problema na bateria e que eles ficaram muito tempo para conseguir fazê-la pegar no tranco. Ficamos na panfletagem até o momento em que houve o comunicado de um acidente, no qual o caminhão-trator de um bi-trem havia pego fogo. Fomos, o Cidão e eu, atender o acidente. Novamente o Xicara queria ir junto, disse que não havia necessidade e que 2 dariam conta do serviço, que ele deveria ficar no posto pelos mesmos motivos que não deixei a ronda sair em 3 PRFs...

Enfim, saímos na vtr e logo que começamos a descer a serra avistamos uma fumaça negra no horizonte. Virei pro Cidão e disse: "Caraca, tá dando pra ver a fumaça daqui.". O Cidão disse que não podia ser que estava muito longe, mais de 20 Kms e que aquilo deveria ser a fumaça de alguma fábrica. Afirmei que deveria ser o acidente pq a fumaça era muito escura. Continuamos seguindo o trajeto até o local, tendo que por muitas vezes ir pela contramão e pelo acostamento com a sirene e o giroflex ligados para conseguir chegar ao local.

Ao chegarmos nos deparamos com o bi-trem ainda em chamas e um caminhão pipa particualar tentando apagar o fogo. O corpo de bombeiros mais próximo fica a mais de 100 Km de distância. 

Sinalizamos o local e começamos a nos informar do ocorrido. Perguntamos aos presentes se o motorista havia saído a tempo e ficamos sabendo que sim, que ele havia saído a tempo e que se encontrava sentado no acostamento. Ao falarmos com ele, ficamos sabendo que ele estaria dando carona para uma senhora,

 que, infelizmente, não havia conseguido sair a tempo apesar dele ter tentado retirá-la. Então, tinhamos um acidente com um óbito; que já não foi o meu primeiro. Ao perguntar como havia sido o acidente, o motorista disse que se distraiu com um dos operários que reformavam a via e quando ele percebeu a carreta a sua frente havia parado. Com isso ele não conseguiu frear a tempo, vindo a colidir e que imediatamente o fogo começou a se alastrar na frente do caminhão.

Ficamos até a noite sinalizando e fazendo a segurança do local. Quando finalmente tudo se resolveu, a perícia já havia vindo, o corpo sido retirado, o bi-trem sido guinchado (foram 2 viagens do guincho e um semi-reboque ainda teve que ficar as margens da BR) e a carga recolhida, voltamos para o posto. Chegando lá, não deu 10 minutos e o telefone toca informando de outro acidente, ocorrido após o primeiro. A outra equipe quis ir com 3 membros e dessa vez deixei, afinal só tinhamos 1 vtr mesmo... Depois de 15 minutos do deslocamento da equipe toca o telefone de novo, outro acidente ocorrera no outro lado do trecho. Expliquei a situação para o usuário, que só tinhamos 1 vtr funcionando e que a equipe estava atendendo outro acidente e que por isso iria demorar. A equipe chegou do acidente às 2:30 da manhã e o Vende-se ficou no posto afirmando que estava muito cansado, enquanto os outros colegas foram atender o acidente ocorrido pra cima da BR. Falei pro Cidão ir descansar pq ele iria voltar dirigindo na volta pra casa. Como o Vende-se também estava visivelmente cansado, falei para ele ir descansar também enquanto tomava conta do posto. Os colegas voltaram bem rápido do acidente, chegando no posto às 4:15. Fizemos um sorteio para definir quem iria descansar e quem iria ficar tomando conta do posto. Graças a Deus fiquei no primeiro horário a partir das 3 da manhã e pude tomar um banho e descansar um pouco.

Assim que deitei (+/- 4:45), entrei em um sono negro, sem sonhos... Eram 6:15 quando o Vende-se me acorda falando que ocorrera um outro acidente no mesmo local do último, fomos o Xicra e eu para a ocorrência. Não conseguia entender, como poderia ocorrer 2 acidentes praticamente no mesmo local????

Após uns 30 minutos chegamos ao local e entendi o porque do acidente e porque os colegas voltaram tão rápido do acidente noturno. Eles haviam pego as informações necessárias para a elaboração do boletim, sinalizado o local e retornado para o posto, deixando um bi-trem parado meio no acostamento, meio na pista e a carga ocupando o resto desta pista. Um cidadão dirigindo em alta velocidade, não conseguiu frear e acabou batendo no mesmo bi-trem acidentado, vindo a capotar com o veículo... Tiramos fotos do veículo e do local e fomos até o hospital coletar os dados para a elaboração do BAT. Voltamos para o posto, chegando lá quase no horário da rendição. Fui imediatamente para o livro para terminá-lo a tempo. A outra equipe chegou e expliquei o ocorrido para o chefe da outra equipe que se encarregou de ir resolver o pepino. E assim, graças a Deus, terminou um plantão horroroso e muito cansativo. Espero que o próximo seja um pouco melhor...

P.S. A carga do acidente que atendi era URÉIA, utilizado como fertilizante agrícola. Realmente o governo está certo. Ser PRF não necessita de adicional de insalubridade, afinal: "A reação com nitratos apresenta o risco de fogo e explosão. A uréia não é um combustível, mas se decompõe a temperaturas acima de 133°C formando vapores tóxicos. Perigos específicos: Quando aquecida, a uréia se decompõe em dióxido de carbono (CO2) e amônia (NH3). Quando queimada, emite óxidos de nitrogênio (NOx) potencialmente perigosos quando inalados." "Nota ao Médico: Na inalação de vapores contendo óxidos de nitrogênio os acidentados devem ser observados por um período de até 48 horas, pois a remissão inicial dos sintomas irritativos de vias aéreas superiores pode ser seguida de edema agudo de pulmão."

Fonte: http://www.quimitec.com.br/acido/4.htm
http://www.unifesp.br/reitoria/residuos/download/fichas_emergencia/ureia.doc