Perdida na vida e acidente...

Durante a manhã um colega novinho, um antigão e eu saímos em ronda. Sem muitas alterações fizemos algumas multas e tals. Fomos também conhecer a cidade mais próxima, uma cidadezinha pacata, parada no tempo, sem muito o que fazer. Depois do almoço, retornamos ao posto e ficamos só o colega novinho e eu. O resto da galera saiu em ronda nas 2 viaturas. Ficamos lá, abordamos vários carros, fizemos mais algumas multas, até que aproximadamente às 19 horas chegou uma menina aparentando ter uns 14 anos pedindo um copo d'água. Tivemos o seguinte diálogo com a menina.

PRF: O menina para onde está indo?

J: To indo lá para Nova Mutum - Aproximadamente 90 Km de distância.

PRF: E como vc vai fazer para chegar até lá?

J: Vou andando ué...

PRF: Como é que vc vai andando até lá???? São quase 90 Km!!! Seus pais sabem onde vc está?

J: Meu pai eu nunca conheci e minha mãe morreu...

PRF: E onde vc mora?

J: Moro em um abrigo lá em Nova Mutum.

PRF: E o que vc está fazendo aqui?

J: Eu fui com uma amiga até a casa da tia dela.

PRF: E os responsáveis pelo abrigo sabem disso?

J: Não, eu fugi.

PRF: Pq vc fugiu? Te tratavam mal lá?

J: Não, me travavam muito bem...

PRF: Pq vc fugiu então?

J: Pq sim...

PRF: Vc é doida? Sai fugida do abrigo e fica andando sozinha aí pela estrada, e se um caminhoneiro pega vc para fazer alguma maldade?

J: Aí eu ia bem gostar.

PRF: ... Eh... vc tem o telefone do abrigo para que a gente entre em contato?

J: Tenho sim, o nº é XXXX-XXXX; pede para falar com Fulana que ela fala com a assistente social me pegar aqui.

Entramos em contato com o abrigo que por sua vez ligou para a assistência social que ficou de pegar a garota lá no posto. Ao conversarmos com os agentes sociais, ficamos sabendo que a garota vira-e-mexe foge do abrigo sem razão aparente.

Durante a noite fizemos um rodízio para descansar. Fizemos turnos de 2 horas e 20 m. Fiquei com mais 2 colegas das 0 às 2:20, o 1º horário do turno. Quando o restante dos colegas já se preparavam para dar aquela descansada, um deles estava sentado no sofá do posto e o telefone toca. Virei para ele e disse, pronto é o meu acidente para não me deixar descansar o plantão todo. Fui lá e atendi o telefone, não é que era mesmo uma comunicação de acidente? Um caminhão baú tinha saído da pista e tombado no lote lindeiro e a vítima se encontrava no local.

Pegamos a vtr e saímos em direção ao local do acidente, não tinhamos a localização exata do mesmo, mas sabíamos que ficava entre 2 cidades há mais de 60 Km de distância. Passamos da primeira cidade de referência e não vimos acidente nenhum, chegamos à segunda cidade e nada de caminhão baú tombado... Chegando nessa segunda cidade virei pro colega e perguntei...

NW: Xícara, tu tá inteiro mano?

PRF: Tô sim cara, pq?

NW: Assume a direção aqui que to malz. Daqui a pouco o acidente vai acontecer é com a gente.

PRF: Blz, sem problemas.

Assim o colega assumiu a direção da VRT e começamos o retorno ao posto comentando que deveria ter sido um trote. Antes de alcançar a primeira cidade de referência avistamos o baú do lado esquerdo da pista caído em um barranco. Não o vimos na ida, pois o mesmo abriu o mato na diagonal e caiu em um barranco de mais ou menos 5 metros de altura. Dessa forma quem vinha no sentido decrescente da via não enchergava nada.

Desenbarcamos da vtr e ainda na BR notamos a ausência de qualquer marca de frenagem o caminhoneiro mais do que provavelmente deve ter dormido ao volante. O caminhão estava tombado com as rodas voltadas para a pista. Começamos a chamar o caminhoneiro e não obtivemos resposta. Todos ficamos com aquele pensamento: "Será uma vítima fatal?". Subi na boléia do caminhão utilizando as rodas para subir. Chamei novamente o motorista e nada, olhei para dentro do veículo e não havia ninguém. Tudo o que via relatava para os colegas. "Olha só tá tudo ensanguentado e sem sinal do motorista."; "O vidro da porta do carona tá quebrado e caiu para dentro da cabine."; "O cara deve ter quebrado com os pés."; "Ele saiu e tava descalço, deve ter cortado os pés no vidro."; "Pegou a lanterna de sinalização, mas ela não funcionou, então ele deixou ela aki na lateral do baú."; "Ele foi andando pela lateral do baí e desceu pelas rodas traseiras do veículo." Manow, vê se ele não tá caído por aí ou se ele foi pra BR pedir socorro, enquanto eu desço daqui. Nisso o colega vira e fala: "PQP, é Night Wolf mesmo. - Se referindo ao personagem do MK que era um índio. - Aqui o motorista descançou, aqui ele espirrou e coçou o nariz, ali ele deu uma ajeitada na calça." Ri do colega e disse que só tava relatando o que tava vendo, os sinais eram muito óbvios, pois as marcas de sangue deixavam tudo bem claro. Com isso desci do caminhão, nisso me sujei todo de sangue e graxa. Voltamos para a BR e vi mais marcas de sangue no asfalto e nada do motorista, provavelmente ele pegou uma carona e foi para alguma cidade buscar socorro médico. Tentamos ainda ir no hospital da cidade para achar o motorista e coletar os dados dele e o seu relato do acidente. Contudo, não achamos o cabra, com isso retornamos ao posto. Depois de saírmos do hospital não me lembro mais de nada, fui dormindo na VTR até o posto. Chegando lá tomei um banho para poder me limpar e fui descançar, afinal já eram quase 4 e meia da manhã e meu turno já tinha acabado à muito...

Graças a Deus não houveram mais alterações e o resto do plantão acabou tranquilo...