domingo, 12 de junho de 2011

Eeeeeeee boi!!!!

O plantão nesse dia estava correndo normalmente, sem grandes alterações. Uma multa aqui, outra ali e vários acidentes. Até o início da noite, tudo estava tranquilo, foi quando recebemos um comunicado de que havia tombado um caminhão boiadeiro carregado e os bois estavam insandecidos correndo pela BR. Estavamos em 3 no posto esse dia, um colega ficou no posto, enquanto o outro foi fazer um final de fila para evitar acidentes, pois já estava tudo congestionado devido ao acidente. O colega que ficou no posto me incumbiu de ir lá no acidente e resolver o problema da melhor e da mais rápida maneira. Virou para mim e disse: "NW vc vai lá e faz de tudo pra liberar a pista. Se vc sentir a necessidade de abater algum dos animais, tem carta branca." Dessa forma, fui sozinho descendo a serra para contornar a situação. Liguei o giroflex e a sirene e fui descendo a serra da maneira mais rápida possível, utilizando o acostamento quando tinha ou enfiando a viatura no meio dos carros. Quando cheguei no local, vi uma cena dantesca saída de algum pesadelo. O caminhão tombado sobre a mureta ocupando as duas faixas de rolamento e nenhum boi na caçamba. Perguntei para o motorista quantos boi haviam e ele me respondeu que tinham 14. Pensei: "Putz, quatorze bois. Só tenho 1 carregador com 12 munições. Se tiver que abater isso tudo, como é que vou fazer?" Resolvi pedir maiores informações para o funcionário da concessionária.

NW: Fala irmão, que confusão que se armou heim. Já chamaram o guincho pra destombar o caminhão? E os bois, sabe onde estão?
Funcionário: "Rapaz, tá tudo uma bagunça. O guincho já tá vindo, mas vai demorar um pouco pra chegar. Relativo aos bois, a situação é a seguinte. Um caiu ali embaixo na ribanceira e tá com a pata quebrada, outro caiu no rio e sumiu. Dez deles, conseguiram tocar pra dentro de uma fazenda e estão presos. Então tem 2 correndo por aí".

Pensei comigo mesmo: "Pô, a situação já melhorou bastante, de 14 para 2 bois a realidade é outra.". Neste momento, ouvi o rapaz da concessionária dizer: "Aí NW, tem um dos bois lá pra baixo, na pista sentido sul há uns 2 Kms." Respondi: "Blz, vou lá pra ver se toco o bicho pra fora da pista."

Cheguei ao local e vi o boi do lado direito da pista e ao chegar o boi começou a correr pelo bordo da pista. Fui pro lado do boi e começei a andar do lado dele, acionando a sirene e buzinando pra ver se ele saia da pista, nem que fosse pra cair na ribanceira. Tentava e tentava e nada do boi sair da pista. Ainda por cima, quando eu tentava encostar mais a viatura nele pra forçar a saída da pista, o boi tentava cornear a viatura. E eu pensando: "Bicho desgraçado, além de não sair da pista, ainda tenta revidar. Pô, assim não vai ter jeito, vou ter que abater ele..."  Fui acompanhando-o assim, por +/- 2 kms e em um determinado momento, chegamos num pátio bem largo, onde há uma borracharia e um restaurante, e o bicho entrou no pátio. Pensei: "A hora é agora, vou acabar com isso". Parei a viatura no meio da pista para impedir a passagens dos carros, caso o boi cruzasse a via. Falei com o cara da concessionário e armamos que eu iria na caçamba da viatura deles, pararia a certa distância do bicho e abateria o mesmo. Tudo certo, subi na caçamba e o cara me levou a +/- uns 8 metros do bicho e parou a viatura. Quando me preparei pra atirar ficando na posição de tiro, o boi abaixou a cabeça e veio na direção da viatura com tudo. No instinto, pulei da caçamba da viatura parando do outro lado. O bicho deu um pinote parando a poucos centimetros da viatura do outro lado em que eu estava. Nos entreolhamos por 1 segundo e o bicho correu pra via, a cruzou, desceu o canteiro central e foi para o lado do sentido norte. Eu pensei, "Cara que bicho inteligente, sabia que ia ser morto e resolveu fazer o que qualquer animal acuado faria, atacou e quando pode, fugiu." E agora? Tenho que pegar o retorno pra ir pro outro sentido. Fui desci alguns Kms e peguei o retorno, sendo seguido pelos funcionários da concessionária. Chegando no outro sentido, avistamos o boi e resolvemos seguir com o plano. Fomos da mesma maneira, só que com outro funcionário dirigindo a minha vtr. Fomos seguindo o boi do lado dele e em uma hora o bicho saiu da pista indo pro bordo e parnado. Disse pro cara da concessionária: "Para, para que é agora." A viatura parou e não pensei 2 vezes. Apontei a PT que já tava preparada pra atirar, inclusive com o cão pra trás e disparei. Acertei no meio da testa do bicho, só que o bicho não caiu, começou a balançar a cabeça de um lado para o outro mugindo. Disparei o segundo e esse pegou no pescoço. Atirei o terceiro e dessa vez o bicho caiu no chão, respirando pesado, mas ainda vivo.

Um dos caras da concessionária, virou e disse pra mim:

Funcionário: "NW dá mais um tiro aqui pro bicho morrer."
NW: "Deixa ele quieto. Não posso gastar munição a toa não. Se ele não levantar, tá bom."

O funcionário ficou a um metro e meio do bicho e disse: "Acho que levantar, ele não levanta mais." Foi só ele falar isso, que o bicho levantou e ficou de pé. Gritei pra quem estava perto: "Saí!!!! Saí daí!!!!" A galera começou a correr e eu saquei a PT e dei um tiro instintivo e esse pegou um pouco abaixo da orelha. Esse foi fatal. O bicho esticou as patas e caiu durinho igual desenho animado. Guardei a pistola e segui no sentido norte procurando o outro boi que faltava, rodei e rodei enão achei nada. Comuniquei pro colega do posto que tinha abatido um dos bois e que não tinha achado o outro. Aí voltei pro local do acidente e atendi o acidente, coletando os dados pra confecção do BR-BRASIL e a narrativa dos condutores dos 2 veículos envolvidos. Foi quando finalmente chegou o GPE para dar o apoio. Infelizmente, devido a distância, eles demoraram muito e na hora que chegaram não tinha mais o porquê da presença deles lá.

Voltei pro posto e fiquei sabendo que um colega que mora perto do posto tinha matado o outro boi que eu não tinha achado. Só fiquei surpreso com a quantidade de tiros que ele tinha usado para fazer o trabalho. Foram 14 tiros dados pelo colega. Nessa hora fiquei me sentindo O atirador. rsrsrsrsrsrsrsrsrs

O resto do plantão estava seguindo tranquilo, sem acidentes e dividimos o turno e fui descansar. O colega me chamou no horário estipulado e me falou que os bois estavam denovo na pista. Parece que alguém tentou roubar os bois que estavam presos e eles saíram desinbestados novamente pela BR. Falei com o colega que estava de chefe e também descansando o que estava acontecendo e ele disse que a concessionária daria um jeito. Voltei pra frente do posto e a concessionária me pediu auxílio, dizendo que a situação estava bem difícil, com os bois correndo de um lado para o outro sem controle e que um acidente seria eminente. Voltei e falei de novo com o chefe, se não seria melhor ir até o local para controlar a situação. Ele disse que era pra deixar, que a concessionária dava um jeito e tal, que ela sempre fazia isso e que tinha gente suficiente pra controlar a situação. Passei um rádio pra concessionária, muito mal com a situação e informei que o chefe não tinha autorizado a gente ir até lá pra ajudar que era pra ver o que eles podiam fazer. Deu uns 10 minutos e recebi uma outra chamada do rádio. Era a concessionária informando que havia ocorrido um acidente. Um bi-trem tinha atropelado um boi e ele tinha sido projetado pra cima de um uno. Contudo, graças a Deus ninguém do uno se machucou, mas o carro em si ficou bem danificado. Comuniquei ao chefe e ele disse que agora era pra eu chamar o outro colega que não tinha como não ir ao local.  Pensei: "Se a gente tivesse ido antes, podia ter evitado esse acidente, enfim..." Fui chamar o outro colega e expliquei a situação. Aí ele me perguntou...

Colega: "O que a gente vai fazer lá?"
NW: "Ué, vamos abater os bichos e controlar a situação."
Colega: "E vamos matar os bichos com o quê?"
NW: "Com tiro kct, com carinho é que não vai ser."

Peguei a doze, municiei e entrei na viatura, o colega veio logo depois e seguimos para o local. Assim que chegamos, avistamos um dos bois que estava perto da ambulância da concessionária que tinha ido tentar ajudar a conter os bois. Com a doze, mirei com cuidado no boi, ficando em parte protegido pela ambulância. Dei o primeiro tiro e pegou na parte de cima da cabeça, mas o bicho não morreu. Dei o segundo e atingi a parte de cima do pescoço, quase na cabeça e o bicho saiu correndo, subindo a rodovia pela contramão. O colega começou a correr atrás do bicho com a PT na mão e fui atrás com a doze. Falei pra ele não atirar e dei mais um tiro. Esse último pegou no olho e o bicho caiu morto. O povo da concessionário, informou que havia mais um um pouco mais pra baixo. O colega me pediu pra poder matar o próximo. Falei que estava tudo bem e passei a doze pra ele. Ele me perguntou se ela estava pronta pra disparar e disse que só tinha que "punhetar" ela. E lá fomos o colega seguindo pela BR no sentido sul e encontramos outro boi no meio da pista do lado direito. A luz do farol da viatura iluminava o bicho e saia vapor dele de tão quente que ele estava. O colega foi pro lado esquerdo perto da mureta, há mais ou menos um metro e meio dela e se preparou para atirar e eu fiquei mais pra trás com a PT na mão, um usuário foi com a gente ficando atrás de mim. O colega mirou e o boi abaixou a cabeça e partiu na direção dele. O colega mirou, mirou, mirou e o boi se aproximando. O boi se aproxima dele e NADA... O colega não tinha entendido o termo que usei pra dizer que tinha que dar o golpe (punhetar) e foi colega, doze pro chão e o boi tentando cornear ele e eu ali parado com a PT na mão. O usuário começou a gritar: "Ajuda ele, faz alguma coisa!!!". Respondi: "Quer que eu faça o que? Dê um tiro na direção do colega?!?!?!" No meio daquela confusão que durou alguns segundos, mas que parecia uma eternidade, o colega conseguiu pegar a doze, dar o golpe e dar um tiro no meio do peito do boi, que deu uns 2 passos pra trás com o tiro. Nisso, cheguei perto do bicho e dei 5 tiros a queima roupa na cabeça dele do lado esquerdo. O boi caiu no chão quase que imediatamente se debatendo. O colega veio e deu um tiro no meio do focinho dele para acabar com o serviço. Não foi uma cena bonita. Onde o tiro do colega pegou jorrava sangue a cada respirada que o boi dava igual um chafariz. O bicho ficou ali agonizando por uns 30 segundos e morreu em seguida. Assim que ele deu o último suspiro o sangue parou de jorrar. Os caras da concessionária tiraram o boi da pista arrastando com o guincho até o acostamento. Tentamos achar algum outro boi, mas não encontramos mais nenhum. Fizemos o retorno e voltamos sentido norte, atendendo o acidente do boi que tinha sido jogado pra cima do uno. Dos 10 bois que estavam presos e foram soltos, prenderam 6, 1 foi atropelado e 2 nos matamos. O último boi que havia sobrado sumiu, ninguém sabe e ninguém viu. Voltamos pro posto e refizemos o turno do descanso. Na manhã seguinte ainda tombou um caminhão carregado de cerveja e conseguimos evitar que a carga fosse totalmente saqueada. Como era perto do horário da rendição, não ficamos muito tempo lá, sendo rendidos pelos colegas que assumiram o serviço no local do tombamento.

Só sei que nos plantões seguintes, todo mundo que encontrava comigo, fossem colegas ou funcionários da concessionária era um só... Eeeeeeeeee boi!!!!!!!

2 comentários:

  1. Eeeee Boi...!!rsrs

    Mas que plantão mais tranquilo hein?!!Quando td parecia ter terminado,lá vem mais um chamado,mas parabéns pelo trabalho,pois deu pra imaginar bem a situação e imagino quantos acidentes mais teriam se não fosse feito algo...Pra variar,ótimo post.
    Abraço
    Owl road

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  2. Valeu cara..gosto muito de seus posts!! Acho legal pq vc é bem detalhista nos relatos..eu não lembraria de 70 %

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