O plantão nesse dia estava correndo normalmente, sem grandes alterações. Uma multa aqui, outra ali e vários acidentes. Até o início da noite, tudo estava tranquilo, foi quando recebemos um comunicado de que havia tombado um caminhão boiadeiro carregado e os bois estavam insandecidos correndo pela BR. Estavamos em 3 no posto esse dia, um colega ficou no posto, enquanto o outro foi fazer um final de fila para evitar acidentes, pois já estava tudo congestionado devido ao acidente. O colega que ficou no posto me incumbiu de ir lá no acidente e resolver o problema da melhor e da mais rápida maneira. Virou para mim e disse: "NW vc vai lá e faz de tudo pra liberar a pista. Se vc sentir a necessidade de abater algum dos animais, tem carta branca." Dessa forma, fui sozinho descendo a serra para contornar a situação. Liguei o giroflex e a sirene e fui descendo a serra da maneira mais rápida possível, utilizando o acostamento quando tinha ou enfiando a viatura no meio dos carros. Quando cheguei no local, vi uma cena dantesca saída de algum pesadelo. O caminhão tombado sobre a mureta ocupando as duas faixas de rolamento e nenhum boi na caçamba. Perguntei para o motorista quantos boi haviam e ele me respondeu que tinham 14. Pensei: "Putz, quatorze bois. Só tenho 1 carregador com 12 munições. Se tiver que abater isso tudo, como é que vou fazer?" Resolvi pedir maiores informações para o funcionário da concessionária.
NW: Fala irmão, que confusão que se armou heim. Já chamaram o guincho pra destombar o caminhão? E os bois, sabe onde estão?
Funcionário: "Rapaz, tá tudo uma bagunça. O guincho já tá vindo, mas vai demorar um pouco pra chegar. Relativo aos bois, a situação é a seguinte. Um caiu ali embaixo na ribanceira e tá com a pata quebrada, outro caiu no rio e sumiu. Dez deles, conseguiram tocar pra dentro de uma fazenda e estão presos. Então tem 2 correndo por aí".
Pensei comigo mesmo: "Pô, a situação já melhorou bastante, de 14 para 2 bois a realidade é outra.". Neste momento, ouvi o rapaz da concessionária dizer: "Aí NW, tem um dos bois lá pra baixo, na pista sentido sul há uns 2 Kms." Respondi: "Blz, vou lá pra ver se toco o bicho pra fora da pista."
Cheguei ao local e vi o boi do lado direito da pista e ao chegar o boi começou a correr pelo bordo da pista. Fui pro lado do boi e começei a andar do lado dele, acionando a sirene e buzinando pra ver se ele saia da pista, nem que fosse pra cair na ribanceira. Tentava e tentava e nada do boi sair da pista. Ainda por cima, quando eu tentava encostar mais a viatura nele pra forçar a saída da pista, o boi tentava cornear a viatura. E eu pensando: "Bicho desgraçado, além de não sair da pista, ainda tenta revidar. Pô, assim não vai ter jeito, vou ter que abater ele..." Fui acompanhando-o assim, por +/- 2 kms e em um determinado momento, chegamos num pátio bem largo, onde há uma borracharia e um restaurante, e o bicho entrou no pátio. Pensei: "A hora é agora, vou acabar com isso". Parei a viatura no meio da pista para impedir a passagens dos carros, caso o boi cruzasse a via. Falei com o cara da concessionário e armamos que eu iria na caçamba da viatura deles, pararia a certa distância do bicho e abateria o mesmo. Tudo certo, subi na caçamba e o cara me levou a +/- uns 8 metros do bicho e parou a viatura. Quando me preparei pra atirar ficando na posição de tiro, o boi abaixou a cabeça e veio na direção da viatura com tudo. No instinto, pulei da caçamba da viatura parando do outro lado. O bicho deu um pinote parando a poucos centimetros da viatura do outro lado em que eu estava. Nos entreolhamos por 1 segundo e o bicho correu pra via, a cruzou, desceu o canteiro central e foi para o lado do sentido norte. Eu pensei, "Cara que bicho inteligente, sabia que ia ser morto e resolveu fazer o que qualquer animal acuado faria, atacou e quando pode, fugiu." E agora? Tenho que pegar o retorno pra ir pro outro sentido. Fui desci alguns Kms e peguei o retorno, sendo seguido pelos funcionários da concessionária. Chegando no outro sentido, avistamos o boi e resolvemos seguir com o plano. Fomos da mesma maneira, só que com outro funcionário dirigindo a minha vtr. Fomos seguindo o boi do lado dele e em uma hora o bicho saiu da pista indo pro bordo e parnado. Disse pro cara da concessionária: "Para, para que é agora." A viatura parou e não pensei 2 vezes. Apontei a PT que já tava preparada pra atirar, inclusive com o cão pra trás e disparei. Acertei no meio da testa do bicho, só que o bicho não caiu, começou a balançar a cabeça de um lado para o outro mugindo. Disparei o segundo e esse pegou no pescoço. Atirei o terceiro e dessa vez o bicho caiu no chão, respirando pesado, mas ainda vivo.
Um dos caras da concessionária, virou e disse pra mim:
Funcionário: "NW dá mais um tiro aqui pro bicho morrer."
NW: "Deixa ele quieto. Não posso gastar munição a toa não. Se ele não levantar, tá bom."
O funcionário ficou a um metro e meio do bicho e disse: "Acho que levantar, ele não levanta mais." Foi só ele falar isso, que o bicho levantou e ficou de pé. Gritei pra quem estava perto: "Saí!!!! Saí daí!!!!" A galera começou a correr e eu saquei a PT e dei um tiro instintivo e esse pegou um pouco abaixo da orelha. Esse foi fatal. O bicho esticou as patas e caiu durinho igual desenho animado. Guardei a pistola e segui no sentido norte procurando o outro boi que faltava, rodei e rodei enão achei nada. Comuniquei pro colega do posto que tinha abatido um dos bois e que não tinha achado o outro. Aí voltei pro local do acidente e atendi o acidente, coletando os dados pra confecção do BR-BRASIL e a narrativa dos condutores dos 2 veículos envolvidos. Foi quando finalmente chegou o GPE para dar o apoio. Infelizmente, devido a distância, eles demoraram muito e na hora que chegaram não tinha mais o porquê da presença deles lá.
Voltei pro posto e fiquei sabendo que um colega que mora perto do posto tinha matado o outro boi que eu não tinha achado. Só fiquei surpreso com a quantidade de tiros que ele tinha usado para fazer o trabalho. Foram 14 tiros dados pelo colega. Nessa hora fiquei me sentindo O atirador. rsrsrsrsrsrsrsrsrs
O resto do plantão estava seguindo tranquilo, sem acidentes e dividimos o turno e fui descansar. O colega me chamou no horário estipulado e me falou que os bois estavam denovo na pista. Parece que alguém tentou roubar os bois que estavam presos e eles saíram desinbestados novamente pela BR. Falei com o colega que estava de chefe e também descansando o que estava acontecendo e ele disse que a concessionária daria um jeito. Voltei pra frente do posto e a concessionária me pediu auxílio, dizendo que a situação estava bem difícil, com os bois correndo de um lado para o outro sem controle e que um acidente seria eminente. Voltei e falei de novo com o chefe, se não seria melhor ir até o local para controlar a situação. Ele disse que era pra deixar, que a concessionária dava um jeito e tal, que ela sempre fazia isso e que tinha gente suficiente pra controlar a situação. Passei um rádio pra concessionária, muito mal com a situação e informei que o chefe não tinha autorizado a gente ir até lá pra ajudar que era pra ver o que eles podiam fazer. Deu uns 10 minutos e recebi uma outra chamada do rádio. Era a concessionária informando que havia ocorrido um acidente. Um bi-trem tinha atropelado um boi e ele tinha sido projetado pra cima de um uno. Contudo, graças a Deus ninguém do uno se machucou, mas o carro em si ficou bem danificado. Comuniquei ao chefe e ele disse que agora era pra eu chamar o outro colega que não tinha como não ir ao local. Pensei: "Se a gente tivesse ido antes, podia ter evitado esse acidente, enfim..." Fui chamar o outro colega e expliquei a situação. Aí ele me perguntou...
Colega: "O que a gente vai fazer lá?"
NW: "Ué, vamos abater os bichos e controlar a situação."
Colega: "E vamos matar os bichos com o quê?"
NW: "Com tiro kct, com carinho é que não vai ser."
Peguei a doze, municiei e entrei na viatura, o colega veio logo depois e seguimos para o local. Assim que chegamos, avistamos um dos bois que estava perto da ambulância da concessionária que tinha ido tentar ajudar a conter os bois. Com a doze, mirei com cuidado no boi, ficando em parte protegido pela ambulância. Dei o primeiro tiro e pegou na parte de cima da cabeça, mas o bicho não morreu. Dei o segundo e atingi a parte de cima do pescoço, quase na cabeça e o bicho saiu correndo, subindo a rodovia pela contramão. O colega começou a correr atrás do bicho com a PT na mão e fui atrás com a doze. Falei pra ele não atirar e dei mais um tiro. Esse último pegou no olho e o bicho caiu morto. O povo da concessionário, informou que havia mais um um pouco mais pra baixo. O colega me pediu pra poder matar o próximo. Falei que estava tudo bem e passei a doze pra ele. Ele me perguntou se ela estava pronta pra disparar e disse que só tinha que "punhetar" ela. E lá fomos o colega seguindo pela BR no sentido sul e encontramos outro boi no meio da pista do lado direito. A luz do farol da viatura iluminava o bicho e saia vapor dele de tão quente que ele estava. O colega foi pro lado esquerdo perto da mureta, há mais ou menos um metro e meio dela e se preparou para atirar e eu fiquei mais pra trás com a PT na mão, um usuário foi com a gente ficando atrás de mim. O colega mirou e o boi abaixou a cabeça e partiu na direção dele. O colega mirou, mirou, mirou e o boi se aproximando. O boi se aproxima dele e NADA... O colega não tinha entendido o termo que usei pra dizer que tinha que dar o golpe (punhetar) e foi colega, doze pro chão e o boi tentando cornear ele e eu ali parado com a PT na mão. O usuário começou a gritar: "Ajuda ele, faz alguma coisa!!!". Respondi: "Quer que eu faça o que? Dê um tiro na direção do colega?!?!?!" No meio daquela confusão que durou alguns segundos, mas que parecia uma eternidade, o colega conseguiu pegar a doze, dar o golpe e dar um tiro no meio do peito do boi, que deu uns 2 passos pra trás com o tiro. Nisso, cheguei perto do bicho e dei 5 tiros a queima roupa na cabeça dele do lado esquerdo. O boi caiu no chão quase que imediatamente se debatendo. O colega veio e deu um tiro no meio do focinho dele para acabar com o serviço. Não foi uma cena bonita. Onde o tiro do colega pegou jorrava sangue a cada respirada que o boi dava igual um chafariz. O bicho ficou ali agonizando por uns 30 segundos e morreu em seguida. Assim que ele deu o último suspiro o sangue parou de jorrar. Os caras da concessionária tiraram o boi da pista arrastando com o guincho até o acostamento. Tentamos achar algum outro boi, mas não encontramos mais nenhum. Fizemos o retorno e voltamos sentido norte, atendendo o acidente do boi que tinha sido jogado pra cima do uno. Dos 10 bois que estavam presos e foram soltos, prenderam 6, 1 foi atropelado e 2 nos matamos. O último boi que havia sobrado sumiu, ninguém sabe e ninguém viu. Voltamos pro posto e refizemos o turno do descanso. Na manhã seguinte ainda tombou um caminhão carregado de cerveja e conseguimos evitar que a carga fosse totalmente saqueada. Como era perto do horário da rendição, não ficamos muito tempo lá, sendo rendidos pelos colegas que assumiram o serviço no local do tombamento.
Só sei que nos plantões seguintes, todo mundo que encontrava comigo, fossem colegas ou funcionários da concessionária era um só... Eeeeeeeeee boi!!!!!!!
Eeeee Boi...!!rsrs
ResponderExcluirMas que plantão mais tranquilo hein?!!Quando td parecia ter terminado,lá vem mais um chamado,mas parabéns pelo trabalho,pois deu pra imaginar bem a situação e imagino quantos acidentes mais teriam se não fosse feito algo...Pra variar,ótimo post.
Abraço
Owl road
Valeu cara..gosto muito de seus posts!! Acho legal pq vc é bem detalhista nos relatos..eu não lembraria de 70 %
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