A volta dos que não foram e a nova escala...

Após 1 mês se deslocando mais de 160 km para trabalhar, voltamos ao posto que fica mais perto da cidade. Contudo, nesse regresso a este posto nem tudo são flores, pois uma nova escala foi implantada: a escala 12X24/12X72. Assim, nessa escala, o PRF trabalha 12 horas diurnas e folga 24 horas e depois trabalha 12 horas noturnas folgando 72 horas. Assim, como a imensa maioria dos PRFs sou completamente contra essa escala. Enfim, vamos aos relatos...

Cheguei ao posto como o primeiro dos novinhos. Revi e cumprimentei o antigo que estava conosco em setembro nesse mesmo posto, e me debrussei sobre o maldito livro preto. A equipe chegou me cumprimentou e eu fui falar com os colegas a cerca da nova escala, pois havia sido conbinado um movimento multa quase ZERO para que regressasse a escala anterior. Quando comecei a falar com um dos colegas, o colega Xícara virou e disse: "Acho melhor conversar com o chefe antes de fazer qualquer coisa; sou contra o movimento." Virou as costas e começou a andar em direção a BR. Pronto, estava criada a discórdia. Metade da equipe ficou com multa zero, enquanto a outra metade começou a autuar tocando o terror. Confesso que fiquei chateado com esse colega, não tanto por ele ser contra o movimento e sim da forma como ele falou. Afinal, ele ter me interrompido, falado o que quis, e virado as costas não dando a mínima bola para o que eu tava falando, não foi nada legal.

Passei a maior parte da manhã ali com a cara enfiada no livro. Mesmo que quisesse não poderia fazer muita coisa. E checa os documentos emitidos, checa o armamento, checa os veículos do pátio, checa os HTs, checa os EDAs, as lanternas, as impressoras, as munições, e relata as inúmeras alterações observadas pelos motoristas da equipe. Enquanto eu estava checando tudo isso e relatando no livro, o colega Xícara veio até mim e disse:

Xícara: "Cara, quando vc acabar aí, a gente vai ali que faço tua segurança pra vc abordar."

NW: "Não mano, to de boa aqui. Precisa não, vai lá fazer teu serviço."

Xícara: "Então tá bom, é que eu fazia isso antes pro shortinho."

NW: "É cara, mas pra mim não precisa. Vou ficar aqui agarrado de boa."

Acho que o colega quis se redimir comigo, pois ficou óbvio e evidente que eu não tinha gostado da atitude dele. Infelizmente, me perdoem aqueles mais iluminados e abençoados por Deus, mas no momento não quis nem olhar para a cara do colega. E o clima chato continuou durante todo o dia. Quando finalmente consegui largar o livro preto, fui com um colega pegar os garrafões d'água lá na casa do caixa prego. Coitado dele, deve ter ficado de saco cheio de tanto que fui reclamando de ser chefe de posto e dessa escala. Depois que retornamos ao posto e fomos almoçar com um outro colega. No restaurante o assunto era o mesmo, a escala e o clima ruim na equipe. Depois de encher a barriga, voltamos, mais uma vez pro posto, e quem tava lá? O chefe... A conversa estava rolando solta, ele dizendo que não tinha pq a gente não fazer nada, que aí ele tb não iria fazer nada e tals... Que aquilo era uma experiência e blá blá blá... Que se a gente quisesse a escala voltaria e mais blá blá blá... Com isso a equipe se dissipou um para cada lado, uns saíram falando: "Então vou lá meter a caneta. hehehehehehe". Ficando só o chefe, o colega que foi buscar água e eu conversando. Olha o diálogo...

NW: Chefe, então quer dizer que a escala mês que vem já voltará a 24X72?

Chefe: Olha isso eu não posso garantir. Tem que ver como vão ficar as coisas. A produtividade de vcs... rsrsrsrsrsrsrsrsrs

Vende-se: Pô chefe, mas aí é que a produtividade vai cair. Afinal a gente não quer a escala.

Chefe: É tem que ver como vai ficar... rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

Graças a Deus, o nosso chefe de delegacia é muito gente boa. Com certeza ele deve ter recebido ordens do superintendente para impor essa escala com a finalidade de aumentar a produtividade. O nosso chefe como sabe muito bem como é a realidade na pista, deixou escapar o modus operandi para regressar a escala anterior. Depois que o chefe foi embora, reunimos com a equipe e resolvemos aderir à redução da produtividade. Mais tarde falamos com a outra equipe e ela tb tinha aderido ao movimento. Agora falta ver se todas as equipes farão o mesmo...

Mais tarde naquele dia, ficamos somente com 2 viaturas,pois uma foi para o conserto. Uma equipe com 4 PRFs subiu a BR para fazer uma ronda. O céu do MT estava com uma cor bem diferente do azul habitual, estava cinza chumbo. E viamos ao longe que estava chovendo mais para cima na BR. Deu mais ou menos uma meia-hora que a equipe havia saído toca o telefone. Adivinha... ACIDENTE. Foi comunicado que havia tido um capotamento na outra BR de circunscrição do posto. Pegamos a vtr que sobrou e fomos até o local. Aproximadamente uns 20 Km do posto, fomos os primeiros a chegar no local. Um carro havia capotado, provavelmente por ter aquaplanado na pista, saindo desta e caíndo no lote lideiro um barranco de mais ou menos 2 metros de altura. No local víamos muitas pessoas em pé sinalizando onde estava o veículo. Graças a Deus nenhuma vítima fatal, só uma senhora que havia se machucado mais e estava ainda dentro do carro. Orientamos ela a não se mexer, pois o corpo de bombeiros estava chegando ao local. Não deu nem 5 minutos os bombeiros chegaram ao local e socorreram a senhora, tirando-a do veículo e colocando-a na ambulância para encaminhá-la ao hospital mais próximo. Com isso e devido a chuva torrencial que caía, decidimos não coletar os dados na hora e voltamos para o posto para depois irmos até o hospital para aí sim coletar os dados.

Chegamos no posto completamente ensopados. Acho que nunca estive tão molhado em minha vida. Era coturno ensopado, a camisa e calça coladas no corpo, a arma então, nem quis pensar na hora na minha PT. O colega que havia ficado no posto, informou que havia tido um outro acidente na outra BR e que a equipe que estava lá já estava atendendo. Como a hora já estava um pouco avançada, pois faltava aproximadamente 1 hora para o término do plantão, fui de novo encarar o livro preto para ir fechando a produção do plantão. Deu nem 5 minutos no posto e toca o telefone, outro acidente na BR onde estavam os colegas. O restante dos colegas foram atendê-lo, enquanto eu fiquei sozinho no posto escrevendo no livro e aguardando o regresso dos colegas para fechá-lo definitivamente.

E o tempo passou, passou, passou... a outra equipe que vinha nos render chegou, e nada das 2 equipes regressarem da BR. Quando finalmente eles chegaram, já havia passado mais de 50 minutos do término do nosso plantão. E eu ainda tinha que acabar de lançar tudo no livro. Foram ainda mais ou menos 1 hora para acabar aquilo. Nunca havia demorando tanto para largar um serviço. Sei que imprevistos acontecem, mas o fator principal foi essa escala. Sinceramente ela não dá certo. Espero que os colegas entendam que a única forma de mudá-la é aderindo ao multa zero e tenham a convicção e a coragem de fazê-lo.

P.S. Ao chegar em casa, a minha arma estava grudada no coldre de tanta ferrugem. Fiquei manutenindo ela por pelo menos 1 hora, enquanto minha roupa estava sendo lavada para o próximo plantão. Afinal, só tenho 1 camisa cáqui, que eu mesmo comprei; pois o DPRF até agora não providenciou para a gente o uniforme completo, coletes balísticos e os carregadores extras. Tem colega que leva para o plantão o resto das munições em um saquinho.