Ainda no último plantão... É a mardita manguaça...

No último plantão, já era noite quando abordei um cidadão que dirigia uma S10. Fiz os procedimentos padrões e peguei os documentos do usuário. Quando pedi que ele abrisse a porta notei que ele estava dirigindo o veículo usando chinelos. Adverti-o que ele seria multado por isso e tals. Deixei 2 colegas com ele e pedi que dessem uma geral no veículo, enquanto eu acessava o sistema e lavrava o auto. Eles deram uma geral no cara e no veículo e não acharam nada demais, pedindo para o usuário esperar o término do procedimento. Depois de uns 20 minutos entram outros 2 colegas no posto juntamente com o cidadão. Um dos colegas veio até mim e perguntou se eu não tinha notado nada de estranho no cara. Falei que não, que tinha abordado ele superficialmente e que tinha deixado outros 2 colegas fiscalizando o cara e o veículo enquanto lavrava o AI. Perguntei ao colega, o porquê da suspeita. E este me informou que o cidadão depois de uns 15 minutos da minha abordagem ficou impaciente e que começou a falar que era um absurdo aquilo, que ele era um ser humano, que ia deixar o carro ali e ia embora andando, etc.

Enfim, levaram o cara pro posto e submeteram-no ao teste de alcoolemia. Logo de início notamos uma resistência do cara que dava um soprinho e parava. Falava que não tinha ar para soprar aquilo tudo e tals... Depois de muito dialogar com o cara, o cara acabou soprando o tempo necessário. Resultado do teste: 0.85 mg/L. O cara estava bêbado igual um gambá, contudo não exalava nenhum cheiro de álcool. Perguntei para os 2 colegas que estavam comigo na abordagem e os 2 afirmaram que também não tinham sentido nada.

Ao encaminá-lo até a delegacia, fomos ouvindo as reclamações do cara. Que aquilo era um absurdo. Que se ele estivesse bêbado tava certo, mas ele estava bem. Que ele estava se sentindo um criminoso. Que a gente estava perdendo tempo levando ele pra delegacia, enquanto toneladas de drogas passavam pela gente. Que nunca na vida dele ele tinha passado por aquela humilhação, etc...

Na delegacia tudo ocorreu as mil maravilhas, muito eficientes os colegas da civil. Rapidamente resolvem o problema, receberam o bebum e liberaram a gente para voltar pro posto.

Ainda naquela noite, um colega abordou outro cidadão em condições semelhantes. Este era daqueles bêbados alegres que falam besteira e tal. O resultado do teste neste indivíduo foi de 0.60 mg/L. Ao preencher o BOP, o colega perguntou pro usuário.

PRF: "Amigo, vc tem alguma alcunha?"

Usuário: "Ah? Alcunha?"

PRF: "É amigo, um apelido..."

Usuário: "Ahhhh, tenho sim: Chupisco..."

PRF: "Chupisco?!?!?"

Usuário: "É chupisco... Você chupa o meu que eu pisco!!!"

Rapaz, eu não presenciei a cena, só ouvi os risos abafados dos outros colegas. Não teve 1 colega que estava perto que não riu... O colega recordando os ensinamentos do instrutor Padre disse: "É seu Chupisco, aquilo que faz rir, também faz chorar!!!"

O interessante foi que conforme o seu Chupisco foi ficando ciente da situação, do valor da multa e da fiança, a graça da situação acabou... Encaminhamos o seu Chupisco a delegacia sem maiores problemas. Ao retornar na delegacia mais tarde para prestar o depoimento, ficamos sabendo do delegado substituto que o seu Chupisco tinha fugido e que deu um trabalhão para ser encontrado e levado de volta a delegacia. Rapaz, é cada coisa que vc vê na estrada. Cada dia é diferente do outro...